3. O que cabe ao Presidente dizer
A crise actual tem um fundamento económico mas é essencialmente uma crise de organização política, que se transformou numa crise social graças ao desemprego elevado e ao ataque ao Estado social.
Há uma massa imensa de recursos públicos posta ao serviço do sector financeiro, que onera os Estados, e cuja apropriação se tornou privada. É um caso original de nacionalização sem transferência efectiva de propriedade. O que mostra que o Estado pode ter um uso selectivo. E que é criticado por alguns quando intervém na esfera social, mas já não é criticado quando é capturado por interesses poderosos.
A crise produziu um desequilíbrio fundamental em favor de poderes não legitimados, como os poderes financeiros e especulativos, e em desfavor dos poderes legítimos e soberanos e do mundo do trabalho e da produção.
Por isso a resposta à crise não é só económica, é e tem de ser política.
O actual PR tem sido, tanto nos silêncios quanto nas intervenções sibilinas, um agente activo do lado do que está errado e um sonoro ausente do lado do que é justo: a defesa do Estado português e da legitimidade social que ele deve ter.
A grande arma de um Presidente é a palavra. As palavras ajudam a mudar a vida, ajudam a criar confiança e esperança.
Cabe ao PR dizer que a situação presente está assente em lógicas perversas, condições injustas e desequilíbrios perigosos. E cabe-lhe defender o povo, vítima maior de processos insustentáveis de que são beneficiários poderosos interesses.
Cabe ao PR dizer que a economia não é os mercados especulativos nem a finança internacional sem rosto. A economia é um sistema de organização produtiva para criar riqueza e emprego, desenvolver o bem-estar das pessoas, gerar progresso e reparti-lo justamente.
É desta economia que não se fala e, por isso, se desamparam os que não têm emprego, se ignoram os enormes desperdícios que se estão a gerar e se tomam posições do lado dos que beneficiam da crise.
Cabe ao PR ser uma voz portuguesa na Europa. Não está escrito em lado nenhum que a superação do drama e da tragédia europeia não possa iniciar-se com vozes vindas das periferias. A Europa não será Europa sem uma visão da importância do seu desenvolvimento solidário e da sua dimensão conjunta no mundo global.
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