publicado por gondomaralegre2011 | Domingo, 19 Setembro , 2010, 15:42

Estou disponível para esse combate"

 

"Estou disponível para esse combate. Com todos vós e com todos os portugueses que estão connosco, com todos os que a seu tempo virão a estar, para mudar e para vencer, pela República e por Portugal."

 

Começo por lembrar o almoço da última campanha em Portimão, com centenas de pessoas e um grande entusiasmo, apesar do temporal desse dia. Não o faço por nostalgia do passado, mas porque essa campanha foi uma campanha pioneira, que abriu no nosso país um novo caminho à cidadania.

Foi uma campanha que afirmou o poder dos cidadãos e mostrou a importância da democracia participativa. Eu creio que esse é o caminho para a renovação da vida democrática. É imperioso, no tempo que vivemos, afirmar o primado da cidadania sobre a lógica dos interesses, dos egoísmos e da indiferença.

 

Esta é a cidade de um grande escritor português, Manuel Teixeira Gomes. Um poeta da palavra, um artista que foi Presidente da República e que, sendo Presidente, nunca deixou de ser artista. E acima de tudo um cidadão que nos deixou uma lição de ética e de sentido estético da vida.

 

Neste ano em que se comemora o Centenário da República, voltamos a precisar desse rigor ético na vida privada e na vida pública. E também de algo que vá para além do discurso cíclico sobre as contas públicas.

 

As pessoas precisam de um horizonte e de uma perspectiva para além dos números e para além dos sacrifícios que lhes pedem no dia a dia. As pessoas precisam de saber porquê e para quê. E sobretudo, para além do direito ao trabalho e do direito ao pão, as pessoas precisam do direito à esperança, do direito ao sonho e do direito à beleza.

 

É talvez a melhor maneira de celebrar o Centenário da República e é com certeza a melhor homenagem que se pode prestar ao Presidente poeta Manuel Teixeira Gomes: voltar a dar aos portugueses uma concreta razão de esperança, voltar a dizer aos portugueses que Portugal vale a pena e proclamar aos jovens que eles têm direito a viver e a dançar a vida, eles têm direito a outra forma de realismo: exigir o impossível.

 

E o impossível é afinal tão simples: primeiro emprego, realização profissional, habitação, uma vida vivida sem ser em permanente precariedade. Mas para isso, como escreveu o Professor Vitorino Magalhães Godinho – “A política de emprego tem de pôr de lado recibos verdes e contratos de termos arbitrários. O trabalho precário é um cancro para o desenvolvimento económico”.

 

Trabalho precário, desemprego, desigualdade, insegurança, incerteza, ausência de perspectivas e de futuro.

 

Estes são os sinais de uma crise que atravessa o mundo e que, tal como tem sido dito, não é mais uma crise cíclica, é uma crise estrutural, uma crise que exige uma mudança profunda e de que só se sai com outro paradigma, outro projecto, outro modelo de desenvolvimento. Mais de que uma visão contabilística e tecnocrática, é preciso uma visão política, com abertura de espírito, inovação e criatividade. Mudar a economia, mudar o sentido da política, mudar a vida. Capacidade de invenção, poder de inspiração.

 

Esse deve ser o papel de um Presidente da República. Ser uma referência e uma fonte de inspiração. Alguém que traga consigo uma nova liderança, não pela interferência nas áreas do governo, mas pela pedagogia do gesto, da palavra e da acção. Alguém que aponte o caminho e seja capaz de nos fazer ver um pouco mais longe do que o estreito horizonte do dia a dia.

 

Alguém que dê um sentido aos trabalhos que nos são pedidos.

 Alguém que seja um patriota e um cidadão do mundo.

 

Alguém que se identifique com as raízes profundas da nossa história e da nossa cultura, mas seja simultaneamente um cosmopolita aberto aos problemas das outras sociedades.

 

Alguém que em todos os momentos exerça um magistério da causa pública e do serviço desinteressado do país.

 

As pessoas precisam de um Presidente que não lhes fale apenas do presente, que não lhes repita apenas números e estatísticas, mas lhes aponte horizontes que lhes permitam esperar em vez de somente aguardar e muitas vezes desesperar.

 

Como republicano, quero uma República moderna, escola pública, serviço nacional de saúde, protecção social, direitos políticos individuais articulados com os direitos sociais, culturais e ambientais.

 

Como socialista, acredito na possibilidade de construir uma sociedade mais justa e solidária, através de serviços públicos geridos, não pela lógica do lucro, mas pela realização do interesse geral, e através de um novo modelo económico onde se conjuguem planeamento e concorrência, iniciativa pública e iniciativa privada.

 

Como democrata, penso que o espaço e a intervenção da cidadania são o sal da vida pública e que a democracia participativa é indispensável à renovação da democracia representativa.

 

Como português, digo que Portugal é muito maior do que a sua dimensão geográfica e que pela história, pela língua e pela cultura é um dos países que pode ser no mundo um actor global.

 

O Mundo atravessa uma crise grave.

 

Portugal vive uma hora difícil.

 

É sempre mais fácil desistir e baixar os braços.

 

É sempre mais fácil dizer que nada vale a pena.

 

Mas Portugal existe, porque houve sempre, desde o princípio e através dos séculos, um povo que acreditou que Portugal vale a pena. Um povo e dirigentes que acreditaram e agiram. E é disso que hoje precisamos. Acreditar e agir. Não sucumbir à tendência para o queixume, para a lamechice, para o fatalismo.

 

Dante dizia que os lugares mais quentes do Inferno estavam reservados para aqueles que em momentos críticos se mantiveram neutros.

 

Quem me conhece sabe que não cometi nunca esse pecado.

 

Posso ter-me enganado. E algumas vezes me enganei.

 

Posso ter errado. E algumas vezes cometi erros.

 

Mas nunca fui neutro. Nunca baixei os braços. Nunca fugi a nenhum combate.

Nem antes, nem durante, nem depois do 25 de Abril.

 

E também não ficarei neutro agora.

 

Queira-se ou não, a próxima eleição presidencial vai condicionar, ou melhor, já está a condicionar a vida política do país.

 

Há duas opções.

 

Os dirigentes mais lúcidos do principal partido da oposição já perceberam que é muito difícil encontrar, a curto prazo, um líder capaz de unir o partido e o centro direita. É grande a tentação de reagrupar o bloco conservador à volta do actual Presidente da República para, através da sua eventual reeleição, conseguir o que não se consegue por via partidária: uma maioria, um governo, um Presidente. Independentemente da pessoa do Presidente, que não ponho em causa, tal projecto, que foi sempre o sonho da direita, comporta riscos para o PS, para toda a esquerda e para o equilíbrio do regime. E tem uma lógica de deriva política de pendor presidencialista.

 

A outra opção é não nos conformarmos e fazer da próxima eleição presidencial uma grande mobilização, não só das esquerdas, mas de todos aqueles, de todos os quadrantes, que desejam a mudança num outro sentido e querem ver renascer a esperança num Portugal sem bloqueios, um Portugal que valha a pena, um Portugal de todos.

 

É esse Portugal que nos interpela. É esse o combate que chama por nós.

 

E o que venho aqui dizer-vos é que estou disponível para esse combate. Com todos vós e com todos os portugueses que estão connosco, com todos os que a seu tempo virão a estar, para mudar e para vencer, pela República e por Portugal.

 

Manuel Alegre 

 

Portimão – 15/01/2010

 

 


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