publicado por gondomaralegre2011 | Sábado, 11 Dezembro , 2010, 19:40

Manuel Alegre em jantar com escritores faz apelo

 

 

A minha visão de Portugal é uma visão poética, uma visão integradora, de que fazem parte “a primeira tarde portuguesa”, essa belíssima expressão com que Alexandre Herculano se refere à vitória de Afonso Henriques na Batalha de S. Mamede, assim como as lendas, os cantares de amigo, as Flores de Verde Pinho de D. Dinis, as crónicas de Fernão Lopes, os autos de Gil Vicente, o “Comigo me desavim” de Sá de Miranda (que anuncia, uns séculos antes, Mário de Sá Carneiro), a revolução de 1383, o Manoelinho de Évora, Fernão Vasques e Álvaro Pais a convocar o povo de Lisboa, o quadrado dos Atoleiros e a Batalha de Aljubarrota (de que hoje em dia é quase inconveniente falar).

 

E, depois e, até, sobretudo esse momento de verdadeira fundação espiritual que é o da escrita de Os Lusíadas e de toda a Lírica de Camões. Não só por nos ter dado uma epopeia em que o herói é o próprio povo português e a sua História, como por ter criado, não apenas uma nova linguagem poética, mas a língua portuguesa tal como hoje a escrevemos e falamos.

 

Ou como quem nunca mais foi capaz de a escrever assim, porque nunca mais ninguém voltaria a juntar o rude que e o terrível porque para os transformar em ritmo, música, poesia em estado puro.

 

Claro que eu podia vir por aí fora, cair em Alcácer-Quibir e regressar com aquele fantástico romeiro que, no Frei Luís de Sousa, quando lhe perguntam quem é aponta o seu próprio retrato e responde: Ninguém.

 

Às vezes tenho a sensação de que todos somos esse romeiro. Ou de que ele até certo ponto se confunde com Portugal – “essa promessa não cumprida”, de que falou António Sérgio.

 

Também podia voltar atrás e partir de Coimbra com o Infante D. Pedro, o primeiro grande europeu, para lavar a afronta em Alfarrobeira, essa escaramuça onde estão sempre a bater-se todos aqueles que, em diferentes momentos históricos, têm lutado pela liberdade e o espírito crítico contra a mentalidade dogmática e o espírito de seita.

 

Visão poética que, evidentemente, passa pelo desembarque de Garrett e Herculano no Mindelo e pela inquietante e subversiva pergunta de Antero que hoje, de certo modo, se está aqui a repetir: “Mas, meus caros senhores, é possível viver sem ideias?”

 

Visão poética que desde as primeiras sílabas das primeiras trovas, até às estâncias d’ Os Lusíadas, chega a Miguel Torga que nos interpela a “nunca descrer / do chão duro e ruim” e, antes, a outro momento fundamental e fundador: Fernando Pessoa e o seu “Portugal – futuro do passado”.

 

Eduardo Lourenço, num ensaio sobre a minha escrita, referiu-se à “nostalgia da epopeia”. Sim. Eu tenho essa nostalgia. É filha de uma certa visão de Portugal. Uma visão que é incompatível com qualquer forma de abdicação. Uma visão que não se resigna àquele “país quietinho” de que falou Teixeira de Pascoaes, o poeta que disse que a saudade portuguesa é uma saudade prospectiva, uma saudade do futuro.

 

Eu não sei se Oliveira Martins tem razão quando afirma que “Portugal é uma nação mas não uma nacionalidade”, ou seja que só existe por um acto de vontade das suas elites. Ou se a razão está do lado de Jaime Cortesão e dos seus “Factores democráticos da formação de Portugal” e daquela convergência dos caracteres atlânticos que são preexistentes ao facto político da fundação e explicam e justificam a nacionalidade e a nação.

 

A atlanticidade é a trave mestra da nossa identidade. “Há só mar no meu país”, dizia, não por acaso, Afonso Duarte, um grande poeta injustamente esquecido.

 

Creio que tanto Oliveira Martins como Jaime Cortesão estão certos: o mar, os portos, o comércio, a atlanticidade e a vontade formaram e fizeram Portugal, a nacionalidade e a nação.

 

Ao longo dos séculos vivemos e ultrapassámos muitas crises. Se é que não temos vivido quase sempre em crise. Parece-me, no entanto, que estamos perante uma crise de novo tipo.

 

Nos últimos trinta anos Portugal passou por transformações sem paralelo. Da ditadura para a democracia, do império para o regresso às origens, da agricultura, das pescas e das indústrias tradicionais para o sector terciário, com consequências não só económicas como sociais, culturais e territoriais, nomeadamente a desertificação do interior e superlotação no litoral e à volta das duas principais cidades, de país entalado entre a Espanha franquista e o mar para a abertura ao mundo e a adesão à Europa, num processo depois acelerado com a globalização, que trouxe consigo, para além de novas oportunidades e conhecimentos, a desregulação, as receitas únicas, o aumento da exclusão e das desigualdades, o risco de uniformização cultural e de diluição ou destruição das singularidades nacionais.

 

A incidência destas transformações não foi acompanhada por uma reflexão tendente a reposicionar-nos perante nós próprios e o mundo. Falta a Portugal uma nova visão estratégica que na era inevitável e irreversível da mundialização permita salvaguardar a sua identidade. Tal não é possível sem voltar à História, à muito antiga e à mais recente.

 

Somos europeus por direito próprio. Devemos estar no centro e na vanguarda da construção europeia. Mas tal não significa uma diluição de Portugal nem a ruptura com o outro lado de nós mesmos: a África, o Brasil, as várias partidas do mundo por onde os portugueses passaram. Não temos poder militar nem força económica. Na Europa e no mundo do mercado contamos pouco, mas contamos no da História, da língua e dos afectos. Entre os países do mesmo peso demográfico, Portugal é um dos poucos que pode ser no mundo um actor global.

 

No Contrato que apresentei nas últimas eleições presidenciais, afirmei que devemos voltar a dizer com orgulho a palavra Pátria e dar-lhe um sentido de modernidade e de futuro. Alguns ficaram surpreendidos, mas eu estava a repetir em prosa o que tinha começado a dizer em verso desde a publicação do meu primeiro livro “Praça da Canção”. E que uma vez mais hoje venho aqui reafirmar.

 

Tenho vindo também a afirmar que para além do défice das contas públicas, há outros défices, o social, o da educação, o da igualdade, o do emprego, o da saúde, o da cultura. Há um défice de confiança e de esperança.

 

Portugal não pode rimar com tanta desigualdade, tanto desemprego, tanta pobreza, tão grande desequilíbrio na distribuição dos rendimentos.

 

Não podemos permitir que a persistência de todos estes défices dê lugar um dia a outro bem mais doloroso: um défice de Portugal e um défice de democracia.

 

Ao contrário do grande poeta Alexandre O’Neil, eu nunca senti Portugal como um remorso. Da minha visão da História faz parte a convicção de que Portugal é um destino. Um destino que está nas nossas mãos e pelo qual, mais do que nunca, todos somos responsáveis.

 

E é por isso que me volto a candidatar à Presidência da República.

 

Porque a autonomia nacional está em risco perante a ameaça de uma nova forma de ditadura: a ditadura dessa entidade mítica a que se chama mercados financeiros.

 

Porque a Europa está a ser desconstruída com o reforço do centro em desfavor dos Estados periféricos e com os contribuintes a pagarem a socialização das perdas do sistema bancário.

 

Porque o capitalismo financeiro está completamente desregulado e a tentativa de aproveitar a crise para pôr em causa direitos sociais e serviços públicos que custaram a luta de muitas gerações constitui um retrocesso civilizacional.

 

E porque esse retrocesso afecta gravemente a qualidade da democracia.

É um problema político, mas é também um problema de cultura e de civilização.

 

E é por isso que os escritores e artistas são mais uma vez chamados à intervenção cívica.

 

E é por isso que conto convosco.

 

Para que juntos tentemos dar um sentido a este tempo sem sentido.


E para que me ajudem a reconstruir a palavra esperança.

 

Viva a República, viva Portugal.

 

 


publicado por gondomaralegre2011 | Domingo, 17 Outubro , 2010, 15:48

 

 “Transformar esta candidatura numa grande dinâmica social capaz de criar a energia necessária para uma mudança e uma nova esperança para Portugal” foi o grande apelo lançado por Manuel Alegre em Coimbra, num jantar onde mais de 400 apoiantes o aplaudiram com entusiasmo, numa grande jornada de mobilização na cidade cujos mestres e companheiros recordou.

 

“Estou aqui tal como sou”, a pensar “no país e nas pessoas concretas que vão sofrer cortes e congelamentos”, frisou Manuel Alegre, criticando “alguns ex-ministros das Finanças”, “sempre os mesmos, sempre com as mesmas receitas – cortar, cortar, cortar, até acabarem por cortar a nossa paciência e a alegria de viver”.

 

“É tempo de ouvir outras vozes, outros economistas, outros comentadores” disse Manuel Alegre, porque “as mesmas receitas do mesmo neo-liberalismo provocarão as mesmas causas que estiveram na origem da crise mundial”.


“É certo”, reconheceu o orador, “que Portugal precisa de consolidar as finanças públicas.” Mas também precisa “de uma estratégia integrada de investimentos públicos, de novos estímulos para o crescimento, de novas políticas de emprego, do aproveitamento dos nossos recursos e do reforço das políticas de inovação e qualificação”, afirmou, concluindo: “Não há outro caminho para nos libertarmos do ciclo vicioso do endividamento e da dependência”.

“O poder de decisão compete aos órgãos que detêm legitimidade democrática”, frisou o candidato, criticando “os banqueiros que estão a fazer o papel de mediadores, a pressionar as forças políticas e a desempenhar o papel que em princípio devia caber ao PR”. “Não consta que os banqueiros tenham sido eleitos, nem que tenha sido abolido o princípio constitucional da independência do poder político democrático em relação ao poder económico”, alertou, num dos momentos mais aplaudidos do discurso.


“Quem vota em mim, vota em alguém que sabe que a palavra é uma força de inspiração dos povos” disse Manuel Alegre, insistindo: “A palavra, não o cálculo ou a gestão dos silêncios, deve ser a principal arma de um Presidente da República.”


“Comigo na Presidência”, garantiu Manuel Alegre, “nenhum governo, seja ele qual for, porá em causa o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, a Segurança Social Pública e o conceito de justa causa”, recordando mais uma vez, por entre muitos aplausos, os compromissos assumidos publicamente no discurso do Centro Cultural de Belém.


“A próxima eleição é decisiva para o futuro político e democrático do país”, explicou Manuel Alegre. “Uma vitória da direita poderá significar o fim das transformações sociais construídas pela democracia nascida do 25 de Abril”, insistiu. Por isso reiterou: “Estou aqui pelos valores de Abril”, “estou aqui contra a precariedade em que vive a nossa juventude”, “estou aqui por um Estado de Direito em que a justiça tem que funcionar doa a quem doer”, “estou aqui pelos 18 por cento de portugueses que vivem no limar da pobreza e que sem as prestações sociais subiriam para 40 por cento”, “as prestações sociais que alguns querem cortar”, acusou, “porque quando falam de cortes é nisso que estão a pensar.”


Defendendo a concertação social e o “papel essencial dos sindicatos na defesa dos direitos dos trabalhadores e dos equilíbrios que deve ter a democracia”, Manuel Alegre apresentou-se como um socialista, um democrata e um patriota, esclarecendo que ser patriota hoje “é ter de Portugal uma visão universalista e aberta ao mundo e à fraternidade com os outros povos".

 

“Nestes tempos difíceis, esta é uma oportunidade que não pode ser perdida”, afirmou o candidato no final da sua intervenção, deixando um apelo a todos os socialistas, todos os bloquistas, todos os comunistas, todas as forças de esquerda, todos os democratas, para se unirem nesta candidatura, porque “é possível esta eleição, é possível derrotar a direita, é possível uma nova esperança para Portugal.”

 

Manuel Alegre lança apelo em Coimbra

 

 


publicado por gondomaralegre2011 | Sexta-feira, 08 Outubro , 2010, 17:27

Manuel Alegre defende que são os políticos que têm de estar próximos das pessoas, não o contrário, e que o momento actual tem que ser de reflexão e de viragem.

 

 

“São os políticos que têm que estar próximos das pessoas, não são as pessoas que são obrigadas a compreender os políticos", afirmou Manuel Alegre esta noite em Braga, referindo-se ao actual momento de crise. “É preciso uma palavra que dê um sentido às dificuldades e aos sacrifícios que as pessoas estão a passar”, acrescentou, sendo efusivamente aplaudido por cerca de duas centenas de apoiantes presentes no jantar de campanha.

 

 

Manuel Alegre lembrou o que dissera, há cerca de um ano também em Braga, sobre a crise mundial e as receitas então aplicadas pelas instâncias internacionais que estiveram na origem do grande colapso financeiro mundial, defendendo que devíamos ter “uma Europa de crescimento económico, de mais emprego, de mais coesão social e de prosperidade partilhada”. Sublinhando a importância da nossa autonomia, o candidato entende que o momento actual “tem que ser de reflexão e de viragem”, não de conformismo, de resignação, ou de fatalidade.

 

Sobre o “velho problema português do endividamento”, Manuel Alegre considera que não é apenas um problema financeiro, mas da nossa economia. “É preciso uma estratégia de crescimento económico, uma estratégia que tenha políticas de emprego,  uma estratégia integrada de investimentos públicos que sejam um estimulo à nossa economia”, pois " se a nossa economia não cresce, nós vamos da recessão para a recessão,  vamos de dívida para a dívida”, defendeu. E deixa o alerta: “Caímos num ciclo vicioso em que daqui a um ano estarão a anunciar novas medidas e novos sacrificios. E nenhum povo pode viver assim”.

 

É preciso outra visão de Portugal

 

Recusando “uma estratégia de cálculo”, ou “de silêncios”, Manuel Alegre defende que a próxima eleição é “decisiva para o futuro político do nosso País”, pois é preciso outra visão de Portugal na Presidência da República. É preciso alguém com uma visão aberta, com uma visão da liberdade e das liberdades, alguém que não tenha preconceitos em relação às descriminações, sejam elas quais forem”, mas também “alguém que quando promulgar uma lei não venha a seguir desvalorizá-la e que, quando tiver que vetar uma lei, vete”.

 

O candidato defende que “é preciso alguém que fale claro aos portugueses” e tenha uma visão cultural e histórica do país, para quem  “a nação não seja só um manual de economia” e que “ponha as pessoas antes dos números, das estatísticas e do manual de finanças”.

 

É preciso na Presidência da República alguém que garanta a estabilidade social como condição da própria estabilidade política e da estabilidade democrática do nosso País.

 

Manuel Alegre em Braga

  

  


publicado por gondomaralegre2011 | Domingo, 19 Setembro , 2010, 17:53







publicado por gondomaralegre2011 | Domingo, 19 Setembro , 2010, 17:42

Alegre no CCB em Lisboa

 

 

Amigos, companheiros e camaradas


Na pessoa de António Almeida Santos, Presidente do PS e com muita honra o meu partido, na pessoa de José Manuel Pureza, Presidente do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, na pessoa do José Faria e Costa, Presidente da Assembleia Geral do Movimento de Intervenção e Cidadania, saúdo os dirigentes dos partidos políticos e dos movimentos cívicos aqui presentes, saúdo todos os independentes e voluntários, saúdo os mandatários nacionais e os mandatários e coordenadores distritais que vieram de todo o país, incluindo as Regiões Autónomas, para as reuniões de trabalho que antecederam esta sessão que tem um objectivo claro que a todos nos une e mobiliza: a vitória.

 

Saúdo os cidadãos que já apresentaram a sua candidatura e até o que, não a tendo formalizado, é aquele que há mais tempo está em campanha.

 

Uma palavra de homenagem, hoje, às vítimas dos trágicos atentados que em 11 de Setembro de 2001 enlutaram a grande nação americana. Não podemos esquecer. Mas também não devemos esquecer que um terrorismo não se combate com outras formas de terror. Felizmente o apelo do Presidente Obama parece ter sido ouvido e respeitado pelo pastor radical que queria queimar o Corão, o que seria uma forma de terrorismo cultural e religioso de consequências imprevisíveis.

 

Este não é tempo de somar intolerância à intolerância, mas de diálogo de religiões e civilizações. Tempo de somar tolerância à tolerância e democracia à democracia.

 

Os portugueses sabem o que sou e o que penso. Sabem que sempre preservei a minha independência e a minha liberdade de consciência e decisão. Sabem que sou um homem livre e frontal, de causas e combates. E sabem que me pautarei sempre pelo interesse nacional, pelo respeito da Constituição e pela ética republicana como garantia de probidade, como defesa da causa pública e como serviço do país.


Estou nesta candidatura como estive em todos os combates da minha vida: com autenticidade, clareza e determinação. Não venho para cumprir calendário, venho para disputar a vitória, porque em eleições democráticas não há coroações nem vencedores antecipados. Tenho a firme convicção de que pela primeira vez – há sempre uma primeira vez - é possível derrotar um candidato que se reapresenta.

 

Sei que Portugal vive um momento difícil. Mas eu não venho para agradar aos profissionais do desânimo. Não venho dizer que o país é insustentável. E também não digo, como já ouvi dizer publicamente a uma ilustre personalidade da minha geração, que a Alemanha e a Senhora Merkel deviam tomar conta de nós porque nós não sabemos resolver os nossos problemas. Os portugueses não precisam nem gostam que tomem conta deles. Ao longo dos séculos o povo português soube sempre vencer as dificuldades e afirmar Portugal, muitas vezes contra as elites entreguistas e capitulacionistas. Estamos aqui para olhar de frente as dificuldades, para lutar e para vencer.

 

E por isso, contra aqueles que se dizem liberais mas começam a defender um novo cesarismo e uma nova deriva presidencialista, eu digo que estou aqui, com todos vós, para preservar a separação e o equilíbrio de poderes tal como estão consagrados no nosso sistema político e na Constituição da República.

 

Não há homens providenciais nem salvadores da Pátria. E o actual Presidente, com todo o respeito, não está isento de responsabilidades.

 

Primeiro Ministro durante 10 anos foi no seu consulado que se verificou o maior aumento da despesa pública. E ao fim de quase 5 anos como Presidente da República, veio dizer-nos que o país está numa situação insustentável.

 

Por isso é preciso mudar. É preciso uma outra visão do país, uma visão mais cultural e política e menos tecnocrática. Uma visão mais aberta e menos conservadora. E também uma outra concepção da função presidencial e do exercício dos poderes que lhe são inerentes.


A política é um exercício ético. Os portugueses esperam que o Presidente fale com clareza nos momentos difíceis. Que não se esconda por detrás de formalismos, ambiguidades e silêncios geradores de equívocos. A clareza e a frontalidade são um factor de estabilidade para a democracia. Comigo os portugueses sabem com o que podem contar.

 

Se tiver algum desacordo ou reserva em relação a uma lei, falarei antes, não depois. E, se promulgar, não virei a seguir desvalorizar a lei que foi promulgada. E se tiver que vetar, vetarei, sem me esconder atrás de falsos pretextos e álibis.


Nesta eleição presidencial, os portugueses terão de fazer uma escolha. E será uma escolha de racionalidade e de justiça:
- Por ou contra a defesa da nossa Constituição e do nosso Estado Social;
- Por uma saúde pública universal e tendencialmente gratuita, financiada pelos impostos, ou por uma saúde privada para os ricos e uma saúde pública descapitalizada e residual para os mais pobres e desvalidos;
- Por ou contra uma escola pública e republicana para todos, exigente e essencial para a promoção da igualdade de oportunidades;
- Por ou contra o aumento da precariedade nas relações laborais;
- Por ou contra o risco da instabilidade política e o cenário possível de um Presidente e de uma maioria de direita;
- Por ou contra uma visão moderna de Portugal sem qualquer forma de descriminação e intolerância moral em relação a minorias;
- Por ou contra a aplicação de políticas que agravariam as desigualdades num dos países que ainda é, infelizmente, um dos mais desiguais da Europa;
- Por ou contra o direito à igualdade, incluindo a igualdade de género e a não discriminação por razões de sexo, raça, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, condição social ou orientação sexual;
- Por uma visão de Portugal com cultura e sentido histórico ou por uma visão contabilística, em que os números se sobrepõem às pessoas, aos valores e à solidariedade.

 

Nos últimos tempos, alguns sectores, com muito eco na comunicação social, têm repetido até à exaustão que os portugueses vivem acima das suas possibilidades. E eu pergunto: mas quais portugueses? Os que estão desempregados?

 

Os que auferem o salário mínimo nacional? Os que se encontram no limiar da pobreza e que atingiriam cerca de 40 % da população se não fossem as prestações sociais e as ajudas do Estado? Os 57% que vivem com um orçamento familiar abaixo dos 900 euros? Os que se vêm novamente forçados a emigrar?

 

Como é que nestas circunstâncias se pode pretender pôr em causa e destruir o Estado Social? Como é possível que num país como o nosso se apresente um projecto de revisão constitucional contra os serviços públicos e os direitos sociais?

 

Todos sabemos que o excesso de endividamento afecta a soberania e a autonomia de decisão de um país.

Todos sabemos que é preciso acertar as contas públicas e que essa é uma condição de preservação do próprio Estado Social.

Mas também todos sabemos que o principal défice português continua a ser um défice social, um défice de emprego, um défice de justiça e um défice de solidariedade. Não devemos ocultar a realidade nem fugir às nossas responsabilidades.

 

Continuamos a ser um país com muita injustiça e muitas desigualdades. O nosso dever é não virar a cara e não nos conformarmos. Portugal precisa de um plano de crescimento económico, melhor aproveitamento do mar e dos recursos endógenos, políticas de emprego, investimento público, que de há uns tempos para cá parece desagradar muito ao actual Presidente de República. Há muita iniciativa, criatividade e inovação que merece ser apoiada e reconhecida.

 

A direita europeia e a direita nacional pretendem aproveitar a crise para pôr em causa direitos sociais pelos quais se sacrificaram e lutaram gerações e gerações de cidadãos. Pretendem rasgar o pacto traduzido numa democracia baseada na solidariedade e em serviços públicos indispensáveis à concretização da justiça social.

 

A Europa foi um sonho de várias gerações, como projecto democrático de cidadania e de coesão social e também de cultura. Mas o que é hoje a Europa? Eu penso que não pode reduzir-se a um mero projecto monetarista. Como escreveu o Professor Vitorino Magalhães Godinho – “A Europa é a única civilização capaz de se pôr em causa a si própria, que substitui a crença pela dúvida metódica e a razão, o súbdito e o senhor pelo cidadão e o povo, e que desenvolve a economia de modo a melhorar a condição dos homens.” Grande professor, grande senhor, grande português!

 

Para voltar a esta ideia da Europa é preciso impedir a destruição dos serviços públicos e daqueles direitos que, desde 1936, desde o grande Léon Blum, foram conquistados e fazem parte da civilização democrática europeia. É preciso mais e melhor emprego e fazer do combate à pobreza a prioridade máxima da agenda europeia. Este deveria ser o caminho.


Não o das políticas anti-sociais que estão a provocar um verdadeiro retrocesso civilizacional. Seja como for, no plano político nacional, temos que saber precaver-nos e defender o conteúdo social da nossa democracia.

 

Os portugueses querem e precisam do serviço nacional de saúde, de que está aqui presente o fundador, o nosso amigo e camarada António Arnaut. Os portugueses querem e precisam de educação pública. Os portugueses querem e precisam de segurança social pública. Os portugueses querem e precisam de segurança no trabalho e apoio no desemprego.

 

O meu compromisso é claro: pelo meu passado e pelas minhas posições, os portugueses têm a garantia de que, se algum governo ou Parlamento, no futuro, pretender acabar com a Saúde Pública, a Escola Pública e a Segurança Social Pública, eu estarei contra e exercerei, sem hesitações, o meu direito de veto.

 

O actual Presidente, com todo o respeito, quer pelas suas convicções quer pela sua prática, não pode dar semelhante garantia.

Acresce que o senhor Presidente se referiu, recentemente, à presente crise como uma oportunidade para ajustamentos no factor trabalho. Curiosa expressão! Quero igualmente deixar claro que utilizarei todos os poderes de que dispõe um Presidente da República para impedir a liberalização dos despedimentos através da eliminação do conceito de justa causa. Como costuma dizer o professor Jorge Leite, a Constituição não é neutra e defende o elo mais fraco da relação laboral – o trabalho. Eu também não serei neutro, estarei do lado do elo mais fraco, do lado dos mais frágeis, do lado dos que precisam, do lado de todos aqueles que são a razão de ser da nossa vida e do nosso combate.

 

Serei uma garantia de defesa dos direitos sociais e do papel estratégico do Estado. Serei uma garantia de sentido de Estado, de rigor e de abertura, na representação nacional, quer se trate da homenagem devida a uma grande figura do país, como no caso de José Saramago, quer na resposta a qualquer governante estrangeiro que insulte a nossa soberania económica, como aconteceu na República Checa.

 

O Presidente, sejam quais forem as circunstâncias, não falta à chamada.

 

Num mundo globalizado e de forte interdependência, temos de saber recuperar, preservar e valorizar os nossos diferentes patrimónios, a História, a cultura, a língua, os sítios, as paisagens, a fauna, a flora, a biodiversidade, tudo aquilo que afirma a nossa diferença e a nossa singularidade.

 

Portugal não é só números nem só um manual de finanças.

Um país é também e sobretudo Os Lusíadas , a Mensagem , e todos os grandes livros que se escreveram em português, uma língua que é a sexta língua mais falada no mundo e que constitui a nossa principal riqueza.

 

Não podemos esquecer a dimensão euro atlântica. Não apenas na perspectiva da afirmação e internacionalização da língua e do desenvolvimento das relações económicas, mas no da constituição de um novo espaço político e cultural. Não é por acaso que um número crescente de países se tem aproximado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. É por aí que passa a singularidade de um país que é muito maior do que o seu pequeno território, mas que, pela língua e pela História, pode e deve ser no Mundo um actor global. Parafraseando uma recente entrevista do Bispo D. Manuel Clemente – “Nós somos esta placa giratória, somos o cais. A Europa precisa deste cais de onde ela própria embarca e aonde regressa”.

 

Amigos, companheiros e camaradas

 

Esta eleição não é um campeonato de demagogia, nem de simpatia, nem de populismo. Estão em causa escolhas fundamentais. Estou aqui por Portugal e por uma visão de esperança e de solidariedade.

 

Estou aqui para pedir humildemente e a todos os portugueses o apoio e o empenho.


Assumo um pacto de lealdade com todos os eleitores e todos os portugueses. Um pacto de lealdade com a Democracia, o Estado Social e a Constituição da República.

 

Dirijo-me aos portugueses que mais sofrem, aos desempregados, aos jovens em trabalho precário ou à procura do primeiro emprego, dirijo-me aos que em tempos difíceis trabalham e produzem, aos que investem e criam riqueza e não se demitem da sua responsabilidade social, aos que dão o melhor do seu esforço, da sua inteligência e da sua criatividade para enfrentar e vencer a adversidade, dirijo-me aos que não desistem e que resistem, dirijo-me a todos os portugueses e portuguesas que, apesar das dificuldades, não se resignam, não se conformam e continuam a acreditar em Portugal. Porque é disso que se trata: acreditar em Portugal.

 

Eu nunca mais quero ouvir o que ouvi uma vez a um jovem na televisão: Eu sou da geração “nem nem”. Nem trabalho nem futuro. O objectivo essencial desta minha candidatura é garantir o futuro das novas gerações, é garantir o futuro de Portugal.

 

É por todos vós que me candidato, é por todos vós que vou lutar pela vitória, para com todos vós construir uma nova esperança para a Democracia e para Portugal.

 

Viva a República.

 

Viva Portugal.

 

Manuel Alegre

 

 

 


publicado por gondomaralegre2011 | Domingo, 19 Setembro , 2010, 15:39

"Há um objectivo que deve unir todos os portugueses : esse objectivo é Portugal. Esse combate vale a pena e chama por nós. Para mudar, não para que tudo continue na mesma."

 

A sociedade portuguesa está dividida e crispada. A desconfiança e a descrença imperam. A maledicência, a suspeita e o insulto substituíram o debate de ideias e projectos. Deixou de haver um sentimento de esperança, um golpe-de-asa, um desígnio maior que una e crie harmonia entre os portugueses.

 

Sobram o sectarismo e a mesquinhez, faltam a generosidade e a grandeza necessárias para nos unirmos em torno de um propósito comum. Sem truques, sem falsas ilusões, mas também sem descrença e fatalismo.

 

Acima dos sectarismos, das corporações, dos clubes, dos lobbies, das capelinhas e interesses particulares, está a democracia e está Portugal, está a crença em valores comuns, na qual acredita a maioria dos portugueses: os valores da decência e do trabalho honesto, da liberdade e da confiança nas nossas instituições, da justiça e da fraternidade, e da absoluta necessidade de sermos capazes de construir uma prosperidade equitativamente partilhada, ao alcance e para benefício de todos os portugueses.

 

Os portugueses estão cansados dos profetas da desgraça, daqueles que estão constantemente a decretar o fim iminente de Portugal. Há quem faça disso, em Portugal, uma profissão. Há quem deva o seu estatuto entre nós ao facto de estar constantemente a passar atestados de doença terminal à democracia e ao nosso país.

Mas nada disto é novo. Profetas da desgraça já houve muitos, em todas as épocas da nossa história. E, no entanto, passaram mais de oito séculos e ainda cá estamos.

 

Portugal é uma magnífica obra da vontade humana. E enquanto for essa a vontade do nosso povo, Portugal continuará a existir. Mesmo contra a vontade de alguns grandes interesses privados, que em vários momentos da nossa história foram "entreguistas".

Eu não tenho dúvidas sobre a força dessa vontade do nosso povo. Olho à minha volta e vejo patriotas. Vejo gente com vontade de dar a volta a isto. Gente com esperança, que não se conforma e que está disposta a lutar por um país melhor, de que nos orgulhemos e que possamos legar aos nossos filhos, um país mais justo e mais fraterno, mais próspero e mais decente do que o país em que vivemos hoje.

 

E de onde vem essa força? Vem de dentro de cada um de nós. A nossa força - a força de Portugal - vem do poder dos cidadãos.

 

- Vem das pequenas e médias empresas que constituem a espinha dorsal da nossa economia, do nosso tecido produtivo, criando riqueza e garantindo a maioria dos empregos do sector privado;

 

- Vem dos empresários que apostam na inovação, na qualificação e que não abdicam da sua responsabilidade social, pautando a sua actividade económica pela exigência da ética nos negócios e pelo estrito respeito da Lei;

 

- Vem dos nossos trabalhadores, que podem ser os mais produtivos da Europa (como acontece com os nossos emigrantes no Luxemburgo);

 

- Vem dos nossos professores - sobretudo do ensino público -, de quem esperamos que eduquem os nossos filhos e netos com rigor e exigência, em nome não das estatísticas, mas da igualdade de oportunidades e do imperativo de formar cidadãos cultos e preparados;

 

- Vem dos nossos funcionários públicos, que servem o Estado, pagam os seus impostos e merecem ser considerados, em vez de serem apontados como o bode expiatório de todos os males deste país;

 

- Vem dos médicos, enfermeiros e auxiliares que, por vezes em situações muito difíceis, trabalham pelo Serviço Nacional de Saúde;

 

- Vem da nossa velha e experiente diplomacia, sempre capaz de colocar Portugal, graças à sua história, língua e cultura, acima do seu peso em termos económicos e demográficos;

 

- Vem das nossas forças armadas, a quem devemos a restituição da liberdade e da democracia, cuja história e tradição praticamente não têm par em países de semelhante dimensão, e que hoje, para além da defesa da soberania, através das missões no estrangeiro, emprestam credibilidade e consistência à nossa política externa;

 

- Vem de movimentos e organizações de voluntariado que todos os dias combatem a pobreza nos seus aspectos mais extremos;

 

- Tem de vir da nossa justiça, de uma justiça independente, imune às pressões, tanto do poder político e económico como das tentações corporativas, uma justiça que garanta a separação de poderes, que restaure a credibilidade das instituições, que permita o funcionamento da economia e que devolva aos portugueses a convicção de que vivemos num Estado de direito, em que há absoluta igualdade dos cidadãos perante a lei.

 

Esta é a nossa gente. Estes são os problemas concretos das pessoas concretas do nosso país. É neles que é preciso pensar. Sobretudo nos que mais precisam: nos desempregados, nos que se encontram em trabalho precário, nos reformados, nos deserdados da vida, nos jovens, mesmo os melhores, que estão desencantados e sem perspectivas. É para eles e sobre eles que se deve debater na AR, com uma cultura democrática de negociação, da parte de todos, governo e oposições. Não há problema em haver discussões fortes no parlamento. Isso é próprio da democracia. E sempre é melhor um parlamento em que se discute do que não haver parlamento nenhum ou então a caricatura que havia na ditadura. Simplesmente : na situação actual é bom que se discuta o que merece ser discutido.

 

A crise mundial está longe de estar resolvida. As grandes instâncias mundiais, OCDE, Banco Mundial, FMI, Banco Central Europeu, parecem mais empenhadas em preservar o sistema que provocou a crise do que propriamente em resolvê-la. O Mundo está sem modelo.


É incompreensível que perante a falência da ideologia neoliberal, as forças de esquerda na Europa não sejam capazes de encontrar novas soluções e novos caminhos ou, pelos menos, de defender o Estado Social que é a sua principal criação. Portugal tem a sua própria crise, agravada pela crise mundial. Os tempos estão difíceis. E podem vir tempos piores. Tempos que exigem coragem, verdade e imaginação.

 

Será que as esquerdas do nosso País, para além das diferenças dos seus projectos, não serão capazes de fazer um esforço para encontrarem um denominador comum à volta das questões essenciais como as políticas públicas, na educação, na saúde, na segurança social, na fiscalidade, na repartição dos rendimentos, enfim, no respeito pelos direitos sociais consagrados na Constituição?

 

Será que, tal como em outros períodos históricos, nomeadamente o 25 de Abril, não seremos capazes de ser de novo precursores e descobrir novos caminhos que dêem outro sentido à democracia e outra esperança aos portugueses?

 

Este é tempo de repor o primado da política e da solidariedade sobre os egoísmos e os grandes interesses.

 

Este é tempo de uma nova atitude, um novo sentido da responsabilidade e de novas respostas sociais, éticas e políticas. Para que o agravamento da crise, o aumento do desemprego, das desigualdades e das tensões sociais não venha a afectar-nos a todos e a suscitar a questão da própria legitimidade do sistema político.

 

O que hoje se pede aos políticos não é que se refugiem no silêncio, nem em habilidades tácticas ou querelas artificiais. O que se lhes pede é verdade, sentido da responsabilidade, vontade de mudança.

 

Para além das diferenças, há um objectivo que deve unir todos os portugueses : esse objectivo é Portugal.

 

Esse combate vale a pena e chama por nós. Para mudar, não para que tudo continue na mesma. Basta ter esperança e acreditar no nosso poder, no poder dos cidadãos. Porque Portugal não é só de alguns, Portugal é de todos.

 

Manuel Alegre 

 

 


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