Peçam-lhe uma ideia de país, uma visão para o nosso futuro colectivo, e, mais vírgula menos vírgula, a resposta há-de ser qualquer coisa parecida com: “já existem palavras a mais na vida pública portuguesa e eu não vou acrescentar mais nenhuma”. É espantoso, claro, mas também é verdade. Sim: politicamente falando, Cavaco Silva é um muro.
Se alguém se atreve a lançar-lhe uma pergunta, um qualquer dilema político que implique uma escolha de sim ou sopas, o mais certo é que a pergunta ressalte como uma bola contra a parede. O quê, um muro de silêncio no mais alto cargo da nação? É espantoso, sim, mas também é verdade. Um muro em Belém - é isso o que nos querem vender por “estabilidade”.
O grande desígnio, digamos assim, da tese cavaquista seria a substituição total do político pelo técnico. Como se o mundo se autorregulasse, como se devêssemos ser todos neutros em relação à realidade, como se nos pudéssemos dar ao luxo de olhar para o lado. Não e não e não. Precisamente por isso, porque não somos neutros em relação à injustiça, à desigualdade e à desesperança, é que, nestes tempos desafiantes, não podemos deixar de escolher as “palavras demasiadas” contra o grande silêncio cúmplice.
De um lado, Cavaco Silva fala de “ilusão” e “utopia” como meros sinónimos. Do outro, Manuel Alegre diz que “se criar um país mais justo é uma utopia, vamos lá fazer essa utopia”. E tu, de que lado é que estás? Com as palavras que dizem ou com as palavras que calam?
Jacinto Lucas Pires
Mandatário para Juventude